14/09/2015 às 23h09

IPI: STJ diferencia “transformação industrial” de beneficiamento

Por Equipe Editorial

O valor correspondente aos custos do acondicionamento em garrafas ou embalagem de água mineral em estado natural que integram a base de cálculo da Compensação Financeira para a Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Isso porque, nos termos do art. 6º da Lei 7.990/1989, a CFEM “será de até 3% (três por cento) sobre o valor do faturamento líquido resultante da venda do produto mineral”, tendo por consideração o produto obtido não no momento da sua mineração, mas sim “após a última etapa do processo de beneficiamento adotado” (isto é, após o seu acondicionamento em garrafas ou embalagem, ainda em estado natural) “e antes de sua transformação industrial” (tendo em vista que esse simples acondicionamento não constitui “transformação industrial”).

Conquanto o conceito de “processo de beneficiamento” esteja previsto no art. 14, III, do Decreto 1/1991, o legislador é omisso quanto ao significado da expressão “transformação industrial”. Nesse contexto, ante o silêncio da legislação específica, torna-se importante esclarecer a influência, no caso em análise, do conceito de industrialização utilizado pela legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O conceito de industrialização, conforme o art. 3º da Lei 4.502/1964, abrange tanto as operações de que resulte alteração da natureza do produto (industrialização em sentido estrito: a transformação industrial) quanto as operações que alteram o funcionamento, a utilização, o acabamento ou apresentação do produto (beneficiamento, montagem, acondicionamento ou recondicionamento). Para o IPI, portanto, é indiferente se tratar de transformação industrial, beneficiamento, montagem, acondicionamento, ou recondicionamento, pois tudo está dentro do fato gerador do tributo.

Cabe ressaltar, ainda, que o IPI somente não incide sobre o acondicionamento ou a embalagem da água mineral em garrafas em razão da imunidade prevista no art. 155, § 3º, da CF, para as operações relativas a minerais. Contudo, havendo transformação industrial, abre-se a possibilidade de tributação pelo IPI. No caso da água mineral, a lei entendeu por espécie nova a sua transformação em água que “contenha como ingrediente principal inositol, glucoronolactona, taurina ou cafeína” (art. 14, parágrafo único, da Lei 13.097/2015).

Assim, se a água mineral não for mais a natural, submete-se à tributação pelo IPI. Diante disso, mutatis mutandis, o mesmo registro se faz quanto à expressão final contida no art. 6º da Lei 7.990/1989: “[…] antes de sua transformação industrial”, de modo que o simples acondicionamento em garrafas ou embalagem da água mineral em seu estado natural não constitui “transformação industrial”, mas sim etapa anterior que, para os efeitos da legislação da CFEM, é compreendida dentro do conceito amplo de beneficiamento.

Fontes: Recurso Especial nº 1.275.910RS, 3ª Turma STJ, acórdão DJ-e 12/8/2015.